“Sem planejamento, o tempo se torna um deserto de infinidade ruim”. (Plessner)
“Cada dia da semana apresenta um caráter peculiar que depende da estrutura do trabalho. (...) mas, não é só o trabalho que caracteriza os dias da semana. (...) Pela liturgia, cada dia recebe um caráter próprio. (...) Muitos pensam que a vida conventual é monótona. Porém, diariamente, em especial pela consciente orientação litúrgica da nossa vida, tem uma qualidade. (...) a Igreja relaciona cada dia da semana com um determinado mistério da fé. Na segunda-feira, comemora-se a Santíssima Trindade; na terça-feira, os santos anjos; na quarta-feira, São José; na quinta-feira, o Espírito Santo, ou também a Eucaristia; na sexta-feira, a Paixão de Cristo. O sábado é dedicado a Maria. É essa dedicação dos dias da semana aos mistérios da fé que dá a cada um desses dias uma qualidade própria. (...) Se comemoramos o Deus Trino na segunda-feira, então, esse não será apenas o primeiro dia de trabalho da semana. (...) Pensar no Deus Trino acarreta uma qualidade bem diferente. (...) Quando o meu trabalho se origina no Deus Trino, e sei que a fonte da força para o trabalho não é minha, mas sim do Espírito Santo, a sua qualidade é outra. Algo jorra de dentro de mim; desabrocha. Se determinado apenas pela vontade própria, o trabalho cria em redor de si uma atmosfera agressiva. Na terça-feira, recordamos que não vivemos o dia sozinhos, mas acompanhados por um anjo, que não é apenas o anjo da guarda, que me acompanha (...). O anjo também me inspira, sugerindo-me novas idéias,. Em meio a situação difícil e decisiva, ele me faz encontrar a solução certa.(...). Os anjos me abrem os olhos para o mistério da convivência humana: nem tudo é rivalidade e concorrência; um pode se tornar um anjo para o outro, dirigindo-lhe a palavra certa ou animando-o quando está passando mal.(...) Na quarta-feira, pensamos em São José, o padroeiro do trabalho. Isto é, quando no meio da semana a atividade se torna penosa, pensar nele nos lembra de que o trabalho é uma tarefa espiritual, em que se faz necessário decidir se nos entregamos a Deus ou se ficamos apenas girando em torno de nós mesmos. (...) Quinta-feira, é o dia em que se comemora a instituição da eucaristia (...) celebramos a transformação do nosso dia-a-dia. Tudo o que produzimos com nosso trabalho e esforço oferecemos a Deus, para que ele o transforme no corpo e sangue de Jesus Cristo. Que tudo o que fazemos seja compenetrado pelo divino amor, que na morte de Jesus brilhou de forma consumada. Na eucaristia, pedimos a Deus que o nosso trabalho se torne pão e vinho para os outros e seja uma bênção para muitos. Sexta-feira é o dia da morte de Jesus. Comemoramos o sofrimento do crucificado. (...) comemorar a morte de Jesus na cruz, (...) confere ao tempo uma outra qualidade. É tempo sagrado, em que o Deus eterno, pela morte de Jesus, operou a nossa salvação. (...) O sábado é sempre dedicado a Maria. O sábado judaico é dia de descanso. Algo dessa qualidade brilha em Maria. Não é pela quantidade de trabalho que ela se distingue, mas por ter confiado na palavra do anjo e ter meditado sobre as palavras de Deus, “guradando-as no seu coração”, como diz Lucas. Maria é a mulher contemplativa, que olha para o próprio interior e leva para o dia-a-dia (...) um colorido feminino. Domingo é um dia festivo, dia de louvor e celebração (...) é dia também de se desprender de tudo o que já passou e de lembrar do que fiz desabrochar em mim e nas pessoas a minha volta. (...) Assim a semana apresenta sua estrutura. Aparentemente, o ritmo sempre igual dá à semana seu caráter, afastando o tédio. Na diferenciação entre os dias, há uma tensão e uma vivacidade internas. (...) (GRÜEN, Anselm. No ritmo dos monges: convivência com o tempo um bem valioso. 2ª Ed. São Paulo: Paulinas, 2007. p. 75-89).
