
Os discípulos missionários são instrumentos de seu Reino de justiça e paz. Uma das expressões da fé é nossa paixão pela justiça. E esta justiça não é teoria. Ela é pratica de transformação de estruturas injustas e estruturas mais justas. Um setor de Aparecida preferiu falar de vida mais justa, ou de sociedade mais justa, porque reservou a Jesus Cristo a pratica de toda a justiça.
Desde Medelin, a Igreja Latina Americana e Caribenha fala de estrutura de pecado de mudanças estruturais indispensáveis, sem conseguir uma vida mais justa. No plano econômico, muitas democracias continuam a obra dos ditadores que se foram. Aparecida adverte: não pode existir democracia verdadeira e estável sem justiça social, sem divisão real de poderes e sem a vigência de estado de direito. É alarmante o nível de corrupção nas economias, envolvendo tanto o setor publico quanto o setor privado. Muitos vivem hoje me nosso continente na miséria, por problemas endêmicos de corrupção. A luta pela corrupção se tornou uma das bandeiras da luta pela justiça. A justiça distributiva exige do poder publico, a quem compete a proteção e a defesa das liberdades dos cidadãos, distribuir as ajudas publicas eqüitativamente. As praticas de exclusão e as estruturas injustas são verdadeiras praticas e estruturas de morte. Diante das estruturas de morte, Jesus faz presente na vida plena. Por isso, cura os enfermos, expulsa os demônios, e compromete os discípulos na promoção da dignidade humana e de relacionamentos sociais fundados na justiça.
O mundo globalizado instalou apenas ilhas de justiça num mar de injustiça. Aparecida propõe, portanto, uma globalização diferente que esteja marcada pela solidariedade, pela justiça e pelo respeito aos direitos humanos; propõe a globalização da justiça no campo dos direitos humanos e dos crimes a humanidade. A globalização configurada pelo neoliberalismo, segue uma dinâmica de concentração de poder e de riqueza. Ela é incapaz de interpretar e reagir em função de valores objetivos que se encontram alem do mercado e constituem o mais importante da vida humana: a verdade, a justiça, o amor, e muito especialmente a dignidade e o direito de todos. Ao buscar só o lucro, atenta contra os direitos dos trabalhadores e a justiça. O destino universal dos bens exige a solidariedade com as gerações presentes e as futuras. O uso dos recursos naturais deve estar regulado segundo o principio de justiça distributiva.
Nessa situação, a Igreja é chamada a ser sacramento de amor, solidariedade e justiça, está convoca a ser advogada da justiça e defensora dos pobres. Unida as outras instituições nacionais e mundiais, a Igreja Católica tem ajudado a promover a justiça, os direitos humanos e a reconciliação dos povos. Ela tem uma responsabilidade em formar cristãos e sensibilizá-los a respeito das grandes questões internacionais. A Igreja não pode e nem deve ficar a margem da luta pela justiça.
Segundo Aparecida, as condições para estabelecer uma paz verdadeira são a restauração da justiça, da reconciliação e do perdão. Assim foi a pratica de Jesus, que renovamos na celebração sacramental. A exemplo da comunidade apostólica ao redor do Cristo Ressuscitado, que partilha o pão e a palavra, reza e celebra, os discípulos recebem os ensinamentos que vão iluminando sua mente e modelando seu coração para o exercício da caridade fraterna e da justiça. Exercem-se no compromisso com a justiça social e através da capacidade de compartilhar. Jesus está em seu meio porque está naqueles que dão testemunho de luta pela justiça, pela paz e pelo bem comum. O anuncio da Boa Nova envolve assumir plenamente a radicalidade do amor cristão, que se concretiza no seguimento de Cristo na cruz; no padecer de Cristo por causa da justiça; no perdão e no amor aos inimigos. A Igreja sabe, por revelação de Deus e pela experiência humana da fé que Jesus Cristo é a resposta as perguntas humanas sobre a verdade, o sentido da vida e da realidade, a justiça e a beleza. Ela propõe procurar um modelo de desenvolvimento alternativo, integral e solidário, baseado em uma ética que inclua a responsabilidade por uma autentica ecologia natural e humana, que se fundamenta no evangelho da justiça, da solidariedade e do destino universal dos bens, e que supera a lógica utilitarista individualista, que não submete os poderes econômicos e tecnológicos a critérios éticos. Nossa pátria é grande, mas será realmente grande quando ao for para todos, com maior justiça.