terça-feira, 1 de março de 2011

JUSTIÇA NO DOCUMENTO DE APARECIDA (DA)


A prática da justiça, no DA não é uma pratica social autônoma. Aparecida fala sempre em justiça e: justiça e caridade de amor, justiça e felicidade, justiça e paz, justiça e direitos humanos, justiça e verdade, justiça e reconciliação, justiça e bem comum, justiça e perdão. Ao aproximar a justiça á misericórdia, Aparecida adverte que a misericórdia sempre será necessária, mas não deve contribuir para criar círculos viciosos que sejam funcionais para um sistema econômico iníquo. Requer-se que as obras de misericórdia sejam acompanhadas pela busca de verdadeira justiça social. Em seguida esclarece a complexa relação entre justiça e caridade a partir da Encíclica Deus Caritas est, do Papa Bento XVI. Podemos falar de uma rede ou de até de um enredo de justiça no DA. Entre os muitos mistérios de Aparecida, está também aquele que introduziu o verbete injustiça no Índice Analítico, mas não justiça.

Os discípulos missionários são instrumentos de seu Reino de justiça e paz. Uma das expressões da fé é nossa paixão pela justiça. E esta justiça não é teoria. Ela é pratica de transformação de estruturas injustas e estruturas mais justas. Um setor de Aparecida preferiu falar de vida mais justa, ou de sociedade mais justa, porque reservou a Jesus Cristo a pratica de toda a justiça.

Desde Medelin, a Igreja Latina Americana e Caribenha fala de estrutura de pecado de mudanças estruturais indispensáveis, sem conseguir uma vida mais justa. No plano econômico, muitas democracias continuam a obra dos ditadores que se foram. Aparecida adverte: não pode existir democracia verdadeira e estável sem justiça social, sem divisão real de poderes e sem a vigência de estado de direito. É alarmante o nível de corrupção nas economias, envolvendo tanto o setor publico quanto o setor privado. Muitos vivem hoje me nosso continente na miséria, por problemas endêmicos de corrupção. A luta pela corrupção se tornou uma das bandeiras da luta pela justiça. A justiça distributiva exige do poder publico, a quem compete a proteção e a defesa das liberdades dos cidadãos, distribuir as ajudas publicas eqüitativamente. As praticas de exclusão e as estruturas injustas são verdadeiras praticas e estruturas de morte. Diante das estruturas de morte, Jesus faz presente na vida plena. Por isso, cura os enfermos, expulsa os demônios, e compromete os discípulos na promoção da dignidade humana e de relacionamentos sociais fundados na justiça.

O mundo globalizado instalou apenas ilhas de justiça num mar de injustiça. Aparecida propõe, portanto, uma globalização diferente que esteja marcada pela solidariedade, pela justiça e pelo respeito aos direitos humanos; propõe a globalização da justiça no campo dos direitos humanos e dos crimes a humanidade. A globalização configurada pelo neoliberalismo, segue uma dinâmica de concentração de poder e de riqueza. Ela é incapaz de interpretar e reagir em função de valores objetivos que se encontram alem do mercado e constituem o mais importante da vida humana: a verdade, a justiça, o amor, e muito especialmente a dignidade e o direito de todos. Ao buscar só o lucro, atenta contra os direitos dos trabalhadores e a justiça. O destino universal dos bens exige a solidariedade com as gerações presentes e as futuras. O uso dos recursos naturais deve estar regulado segundo o principio de justiça distributiva.

Nessa situação, a Igreja é chamada a ser sacramento de amor, solidariedade e justiça, está convoca a ser advogada da justiça e defensora dos pobres. Unida as outras instituições nacionais e mundiais, a Igreja Católica tem ajudado a promover a justiça, os direitos humanos e a reconciliação dos povos. Ela tem uma responsabilidade em formar cristãos e sensibilizá-los a respeito das grandes questões internacionais. A Igreja não pode e nem deve ficar a margem da luta pela justiça.

Segundo Aparecida, as condições para estabelecer uma paz verdadeira são a restauração da justiça, da reconciliação e do perdão. Assim foi a pratica de Jesus, que renovamos na celebração sacramental. A exemplo da comunidade apostólica ao redor do Cristo Ressuscitado, que partilha o pão e a palavra, reza e celebra, os discípulos recebem os ensinamentos que vão iluminando sua mente e modelando seu coração para o exercício da caridade fraterna e da justiça. Exercem-se no compromisso com a justiça social e através da capacidade de compartilhar. Jesus está em seu meio porque está naqueles que dão testemunho de luta pela justiça, pela paz e pelo bem comum. O anuncio da Boa Nova envolve assumir plenamente a radicalidade do amor cristão, que se concretiza no seguimento de Cristo na cruz; no padecer de Cristo por causa da justiça; no perdão e no amor aos inimigos. A Igreja sabe, por revelação de Deus e pela experiência humana da fé que Jesus Cristo é a resposta as perguntas humanas sobre a verdade, o sentido da vida e da realidade, a justiça e a beleza. Ela propõe procurar um modelo de desenvolvimento alternativo, integral e solidário, baseado em uma ética que inclua a responsabilidade por uma autentica ecologia natural e humana, que se fundamenta no evangelho da justiça, da solidariedade e do destino universal dos bens, e que supera a lógica utilitarista individualista, que não submete os poderes econômicos e tecnológicos a critérios éticos. Nossa pátria é grande, mas será realmente grande quando ao for para todos, com maior justiça.

ESPÍRITO SANTO NO DOCUMENTO DE APARECIDA (DA)


Aparecida dá um peso quantitativo ao Espírito Santo, sem mencioná-lo, porém, como protagonista da missão (Rm 21b), ou como Pai dos pobres [cf. Seqüência de Pentecostes]. É o Espírito Santo dos movimentos pentecostais católicos, o grande animador da Igreja, que justifica nossa esperança em qualquer situação. O DA reconhece em todas as Conferências Gerais anteriores de Episcopado a ação de Espírito. O Espírito Santo de Aparecida é (a) dom e doador de dons, (b) que conduz a vida de Jesus Cristo e (c) está presente na Igreja, (d) onde ele atua e propõe mudanças.

a) O Espírito é dom e doador de dons (dator mune rum), é um dom do Pai e é Deus no gesto do dom. Deus enviou o Espírito de seu Filho a nossos corações, e o Espírito clama: Abbá! Pai!, Gl 4,4-51. O dom de Jesus é nova criação e convocação da dispersão á comunhão e unidade. A unidade é, antes de tudo, um dom do Espírito Santo, unidade no espírito Santo, unidade como diversidade articulada. Aparecida faz votos que a unidade dos cristãos se consolide e frutifique sob a luz do Espírito Santo. Todos os outros dons, todos aqueles que o espírito santo já semeou (2620, estão a serviço da unidade da humanidade e da comunhão da igreja: a vida consagrada, o sacerdócio. Os novos movimentos e comunidade. A diversidade de carismas, ministérios e serviço abre o horizonte para o exercício cotidiano da comunhão através da qual os dons do Espírito são colocados á disposição dos demais para que circula a caridade, 1Cor 12, 4-12. De fato, cada batizado é portador de dons que deve desenvolver em unidade e complementaridade com os dons dos outros, a fim de formar o único Corpo de Cristo, entregue para a vida do mundo.

b) Jesus conduzido pelo Espírito. Maria concebeu seu filho, Palavra, pela força do Espírito Santo. Esse mesmo Espírito está no início da missão de Jesus de Nazaré e da nossa América. Maria, a grande missionária, da mesma forma como deu á luz o Salvador do mundo, trouxe o Evangelho á nossa América. No acontecimento em Guadalupe, presidiu, junto com o humilde João Diego, o Pentecostes que nos abriu aos dons do Espírito.

No Espírito Santo, o filho do carpinteiro foi confirmado Filho bem-amado, por ocasião de seu batismo no Jordão, Lc 3,22. Por ele foi conduzido ao deserto para preparar-se para sua missão Mc 1,12-13 e venceu as tentações de seguir outros caminhos. Esse mesmo Espírito acompanhou Jesus durante toda sua vida At 10,38. Nele foi ungido Messias para evangelizar os pobres Lc 4,18. Àqueles que aceitaram segui-lo, os introduziu no mistério do Reino de Deus, e depois de sua morte e ressurreição os enviou a pregar a Boa Nova na força do Espírito. O Espírito Santo, que atua em Jesus Cristo, é também enviado a todos enquanto membros da comunidade.

c) O Espírito na Igreja. A igreja tem sua origem na missão do Filho e do Espírito Santo, segundo o designo do Pai. No batismo, os cristãos acolhem a ação do Espírito Santo. O encontro com Cristo, graças á ação invisível do Espírito Santo, realiza-se na fé recebida e vivida na Igreja. A partir de Pentecostes, ela experimenta a irrupção do Espírito que se expressa em diversos dons e carisma 1 Cor 12,1-11 e variados ofícios. O Espírito na Igreja forja missionários, indica os lugares que devem ser evangelizados e escolhe aqueles que devem fazê-lo, At 13,2. O que nos define como cristãos é acima de tudo o amor recebido do pai graças a Jesus Cristo pela unção do Espírito Santo. Essa prioridade fundamental é a que tem presidido todos os nossos trabalhos, não temos outra felicidade nem outra prioridade senão a de sermos instrumentos do Espírito de Deus na igreja, para que Jesus Cristo seja encontrado, seguido, amado, adorado, anunciado e comunicado a todos. É o Espírito quem recorda á igreja as palavras de Cristo. Jo 14,26. Ele é o mestre interior que conduz ao conhecimento da verdade. Essa é a razão pela qual os seguidores de Jesus devem deixar-se guiar constantemente pelo Espírito, Gl 5,25, e tornar a paixão: anunciar a Boa Nova aos pobres, curar os enfermos, consolar os triste, libertar os cativos e anunciar a todos o ano da graça do Senhor. Lc 4,18-19.

d) O Espírito propõe conversão e mudanças. O Espírito colocou esse germe do reino em nosso Batismo e o faz crescer pela graça da conversão permanente. Através do Espírito, deus continua derramando seu amor em nós. Ele é guia e fortalece a igreja no anúncio da palavra, na celebração da fé e no serviço da caridade. O poder do Espírito e da palavra contagia as pessoas e as leva a escutar Jesus. Na Igreja, ele forja missionários, desperta ministros e testemunhas da Palavra de Deus, escrita sob sua inspiração. A vida no Espírito nos torna pessoas generosas e criativas, felizes no anúncio e no serviço missionário. Através de valores de reino de deus nas culturas, de compromissos históricos assumidos nas religiões, do testemunho de pessoas e comunidades que anunciam Jesus cristo, nós descobrimos a presença do Espírito Santo em terras de missão. Pelo sopro do Espírito Santo, a graça de Cristo pode alcançar a todos os que Ele redimiu, para além da comunidade eclesial. O Espírito faz tudo novo. Na fidelidade ao Espírito Santo, os discípulos missionários percebem a necessidade de uma renovação eclesial que implica reformas espirituais, pastorais e também institucionais. Esperamos um novo Pentecostes que nos livre do cansaço, da desilusão, da acomodação ao ambiente; esperamos uma vinda do Espírito que renove nossa alegria e nossa esperança. Com um ar melancólico e um apelo á Providência divina termina o DA: Levemos nossos navios mar adentro, com o poderoso sopro do Espírito santo, sem medo das tormentas, seguros de que a Providência de Deus nos proporcionará grandes surpresas.